quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Parênteses para o silêncio

Você precisa cultivar a habilidade de ser só você mesmo e não estar fazendo alguma coisa. É isso que os telefones estão marando, a habilidade de só ficar sentado fazendo nada. Isso é ser uma pessoa. Porque por baixo de tudo na sua vida, tem aquela coisa - aquele vazio eterno. Aquela desconfiança de que nada vale a pena e você está sozinho. E às vezes quando as coisas ficam calmas, você não tá esperto, tá no carro, e aí você começa a perceber 'Ahhh não, lá vem. A solidão'. Essa coisa chega, essa tristeza. A vida é triste demais, só estar nela... e é por isso que a gente dirige enquanto manda mensagem de texto. Praticamente 100% das pessoas hoje usam o celular enquanto dirigem, as pessoas estão se matando com seus carros, mas elas assumem o risco de tirar uma vida e arriscar a própria vida porque não querem ficar sozinhas por nem um segundo, porque é difícil demais. [...]
É que, porque a gente não quer aquela pequena tristeza, a gente a empurra pra baixo do tapete com um celular, ou comida, ou masturbação. A gente não se permite mais sentir-se extremamente triste, ou extremamente feliz, você meio que só se sente satisfeito com seu produto, e morre.
Fonte: Revista Galileu 

A gente tem duas opções (talvez três): encarar os momentos de tristeza, alegria e tudo o que vier (obviamente dentro da saúde psíquica), o que pode ser ajudado pela talvez terceira opção que também pode ser parte da segunda: carregar um sorriso no rosto nos momentos mais complicados. E esse sorriso, que "eis a questão", pode não ser essencialmente viver tais momentos, e a lógica é sentir cada instante para ser mais, digamos, humano.

E depois de um tempo você cansa de suportar, você tem medo de não mais aguentar aquelas horas de percepção do quanto somos pequenos, do quanto tudo pode dar errado e podemos perder tudo, do quanto gastamos tempo com algo que não gostamos ou o quanto as coisas não nos satisfazem e falta algo eternamente mesmo que seja só a vontade e a coragem. Ou do quanto as pessoas fazem você se sentir dessa forma. Aí a música fica triste, o filme fica triste, o livro fica sem gosto. É quando você se perde com um sorriso pra confortar até chegar na segunda opção: deixar de viver isso e passar por cima. E empurrar com a barriga os minutos do relógio, os dias, e tapar buracos mais fundos com pouco...

Insisto em acreditar no equilíbrio (e que existe algo dentro de nós que pode nos salvar, como pessoas). Perdoem a minha divagação.

2 comentários:

  1. Não tinha lido ainda esse trecho da Revista Galileu e to impressionada. Dia desses tava percebendo que ando lendo menos porque to passando muito tempo sem fazer nada no celular. Nem que seja só ficar olhando besteiras ou só checando nada em específico e tenho medo. Na verdade, tenho medo de tudo que possivelmente pode me viciar, então to num momento detox. Apesar de a tecnologia ser maravilhosa e consequentemente o celular, eu preciso de limites e prezo muito pelos pequenos momentos solitários e introspectivos que às vezes ele me rouba.
    Também acho que a nossa sociedade ta muito voltada a uma felicidade a qualquer custo, então as pessoas têm esse medo constante de se encarar, de ver-se sozinhos e de aparentar estar, ser triste. É um tipo de ditadura da felicidade. Meio louco isso, mas real demais. Por isso, eu paro, penso, deito na rede pensando na vida e às vezes esqueço de propósito o celular em casa.
    Enfim, adorei o teu blog e esse texto também. To te acompanhando! Beijoss

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Infelizmente podemos sofrer disso e nem perceber, sendo dependentes da ocupação. A felicidade não é um bem constante e não aceitamos isso, rs. Ainda bem que você está buscando essas momentos mais tranquilos.

      É muito bom tê-la por aqui! Também lhe acompanho no Deixa Molhar. Um abraço 'procê.

      Excluir