domingo, 24 de maio de 2015

Senhora, José de Alencar

Com retratos da sociedade  e a relação entre seus membros, José de Alencar nos leva aos costumes de uma época e principalmente à relação entre amor e dinheiro que ocorria (simbolizada na imagem de capa da edição da editora Ática).

O livro é dividido em quatro partes.  Basicamente: na primeira vamos conhecer uma moça órfã e rica que tenta conseguir o homem que ama com seu dinheiro, esta é  Aurélia, além da negociação do valor do matrimônio; e um jovem que mora com a mãe e suas irmãs em um local bem retratado como: simples por fora e nos móveis, mas com detalhes de importância social e/ou grande valor financeiro pertencentes ao tal rapaz: Seixas. Na parte dois vamos conhecer a origem de Aurélia, e como ela conheceu o tal Seixas, até chegar na situação retratada na parte um. Chega, também, o momento do casamento e um acontecimento na "câmara nupcial" que vai definir a história a partir daí, até que chegue as últimas páginas. Na terceira e na quarta se passa o que seria a vida de casados de Aurélia e Seixas, mas com um determinado conflito e um grande toque de orgulho e mal entendido.

Aurélia ficou órfã de pai, este que era casado escondido com sua mãe devido a seu pai, colocando-os em uma situação difícil. O irmão da moça começa a trabalhar para ajudar nas despesas juntamente das costuras que elas faziam, e já aí Aurélia mostrou ter, de certa forma, autonomia e uma facilidade para lidar com negócios. Certo dia, ela estava na janela, como a mãe havia pedido, para que a vissem e quiçá um casamento surgisse para ajudar financeiramente a família. Assim, ela conhece Seixas e até chegam a combinarem de se casar, com a mãe dela, mas ele não tinha condições de manter uma "mulher da sociedade", o que ele a tornaria, e ainda seus luxos pessoais. Já que ela não tinha o que oferecer e ele que iria ajudá-los. Assim, lhe chega uma oferta de um dote de Adelaide, que ele aceita sem pensar muito, e seu casamento com Aurélia é cancelado. O que ela já esperava, pois a insistência do casamento foi por parte da mãe, e para ela apenas ter o amor de Seixas bastava. O próprio autor cita, que Aurélia vivia de seus sonhos e idealizações, não do Seixas real, e isso bastava para ela.
- Se eu tivesse a desgraça de perdê-la, minha mãe, sua filha já não ficaria só. Teria para ampará-la além de sua lembrança, um amor que não a abandonará nunca. (pág 101)
- A sua promessa de casamento o está afligindo, Fernando; eu lha restituo. A mim basta-me o seu amor, já lho disse uma vez; desde que mo deu, não lhe pedi nada mais. (pág. 105)

Primeira parte: boa.
Segunda parte: muito boa.
Terceira e Quarta: regular.
Na primeira nos é apresentado uma situação de "compra" de marido. O poder que o dinheiro exercia, que levou em muitos momentos ao orgulho e à humilhação. Já conhecemos a Aurélia após ficar rica, que não era muito diferente do que ela realmente era. Na seguinte nos foi contada a origem, desde o romance dos pais de Aurélia até o momento do pedido de casamento de Seixas, e de sua mudança para um que lhe oferecia um dote considerado bom até aquele momento, que cobriria suas necessidades e seus luxos, sendo esta a que mais gostei justamente por contar a história, esclarecendo a primeira parte, tanto que ficou a vontade de voltar e reler a inicial para ver se não passou nada sem entendimento. Porém, os dois últimos mantiveram a convivência pós casamento, onde ela era a dona e ele o "marido mercadoria", posição a qual ele mesmo se submetera devido a uma reação que ela esperava mas não teve, e a forma como ela agiu me incomodou bastante. Aurélia até tinha me chamado a atenção no início, como já disse, pela autonomia que vi nela, mesmo que esteja ligada diretamente à essa idealização e à ela viver do que criava em sua mente, mas passava que sabia lidar com os acontecimentos, de forma a viver de seus sonhos e criações, até chegar no que veio depois do casamento, e que mostrou que houve uma confusão entre os dois.

Mas de um todo o livro possui seu valor, seus retratos de costumes sociais daquele momento, uma história bem fundamentada, com parágrafos bem trabalhados onde a cada um as palavras eram utilizadas de uma forma a envolver o leitor em uma relação um tanto conturbada.

***
Por isso mesmo considerava ela o ouro um vil metal que rebaixava os homens; e no íntimo sentia-se profundamente humilhada pensando que para toda essa gente que a cercava, ela, a sua pessoa, não merecia uma só das bajulações que tributavam a cada um de seus mil contos de réis. (pág. 21)
[...] Para nascer é preciso dinheiro, e para morrer ainda mais dinheiro. Os ricos alugam os seus capitais; os pobres alugam-se a si, enquanto não se vendem de uma vez, salvo o direito do estelionato. (pág. 54) 

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