quinta-feira, 23 de outubro de 2014

O início

Natal de 2011.


Noite de natal... normalmente estaria reunida com toda a família, comendo muito, e forçando um sorriso para parecer bem. Mas hoje foi diferente. Acordei bem cedo, antes das seis, arrumei a mochila e saí, em busca de um pouco de tranquilidade. Caminhei até a pequena estação da cidade, onde sairia um trem em quinze minutos... um período de espera onde pude pensar sobre minha vida. Essa mesma vida que eu estava deixando para trás, essa mesma onde eu tinha um coração partido, e estava atrás de mim, da minha felicidade, e da vida que eu havia perdido. Me lembro apenas do trem passando, depois dele parando, e de quando entrei. Comecei a andar, procurando a minha poltrona, até que achei o local, e quando fui colocar minhas coisas:
- Oi, pequena.
- Oi.
- O que faz aqui?
Quando vi, lá estava eu, contando minha história pra um desconhecido. Mas já que estaria ao lado dele por toda a viagem, não ia fazer muita diferença, pelo menos íamos ter assunto no caminho. Ele achou loucura eu ir embora assim, sem avisar, sem mais nem menos, por conta de "uma paixão besta", mas cada um sabe a dor que trás no coração. A viagem foi longa, e um pouco cansativa, até que chegamos à cidade.
- Então você fugiu de casa por conta de um amor que não deu certo?
- Não foi bem isso, é que minha vida era uma droga.
- A nossa vida só é uma droga quando nós vemos ela por esse lado. Se todo dia de manhã você sorrir das pequenas coisas, ao invés de chorar por grandes problemas.. tente equilibrar as situações.
- Mas é que você não entende. A minha família é um horror. A pessoa que eu amo não me ama, eu vivo presa dentro de casa, não me deixam sair para lugar nenhum, e... tudo é ruim.
- Já experimentou esperar?
- Esperar o que? O tempo passar e eu apenas ver pela janela?
- Esperar as coisas certas nos momentos certos.
- Então você acredita no destino?
- Acredito que tudo tem sua hora, e que, quando ela chega, devemos agarrá-la. Preste atenção, querida, tudo tem um motivo, se não achasse sua vida uma droga, você não teria fugido, não teria me conhecido, e eu não teria conhecido o amor da minha vida. Hoje entendo porque todos os outros deram errado. Agora vamos pegar o trem e voltar para o seu lar, prometo não sair do seu lado. Nem durante a viagem, nem durante qualquer dia da sua vida.

~

(publicado originalmente em uma-poeta-solitaria.tumblr.com. Nos tempos em que ouvia Fresno constantemente, em que choveu mais do que qualquer época que lembre, e onde tinha as primeiras pontadas de sentimentos jovens. Pois é, hoje olho para trás e não vejo tais momentos como algo ruim. Pelo contrário, após um tempo de "hiato" de mim mesma, de não conseguir ouvir mais as músicas que ouvia antes, de sentir mais facilmente e mais superficialmente; hoje consigo ouvir a mesma banda sem sentimentalismo em excesso. Não que tudo foi bom, porque não foi, mas olhamos e valorizamos o que passou, como parte. Hoje ouço, seleciono,  e reescrevo aquele texto escrito no tempo que até ontem era triste, mas hoje era simplesmente meu, parte do todo.
"Arrumei a mochila" inspirado na série Noite Eterna, quando a Bianca se prepara para fugir da escola interna e voltar à cidade onde viveu até então)

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